domingo, 22 de janeiro de 2012

Dr. Erasmus Darwin, o médico e o monstro



Lendo recentemente o famoso livro de Mary Shelley, “Frankenstein ou o Moderno Prometeu”, dei por conta do nome do Dr. Erasmus Darwin (avô do naturalista inglês Charles Darwin), o qual juntamente com outros cientistas da época serviram como fonte de inspiração à autora no processo de criação deste clássico da literatura universal, considerado o maior romance de terror de todos os tempos.

Para quem não sabe, Erasmus Darwin foi um dos estudiosos europeus que aderiram à crença no Galvanismo, uma teoria fundada no final do século XVIII por Luigi Galvani, médico italiano e professor de Anatomia da Universidade de Bolonha. Os adeptos desta bizarra teoria realizavam experimentos com estímulos elétricos em animais e cadáveres com o intuito de curar enfermidades e até animar defuntos.
O nome do avô de Charles Darwin aparece já no início do livro, quando a autora passa a explicar a origem da história e os motivos que lhe serviram de estímulo na elaboração da obra:

“Muitas e longas eram as conversas entre Lord Byron e Shelley às quais eu assistia como ouvinte devota, mas silenciosa. Durante uma delas, discutiu-se sobre várias doutrinas filosóficas e, entre outras, sobre a natureza do princípio da vida, e se havia possibilidade de ele ser descoberto e comunicado a algo. Eles falavam das experiências do Dr. Darwin (não me refiro ao que o doutor realmente fez ou disse que fez, mas no meu próprio interesse, no que se falava que ele teria feito), que havia guardado um pedacinho de vidro até que, por algum meio extraordinário, ele começou a se mover voluntariamente. Afinal de contas, não era assim que a vida devia ser criada. Talvez se pudesse reanimar um cadáver; as correntes galvânicas tinham dado sinal disso; talvez se pudesse fabricar as partes componentes de uma criatura, juntá-las e animá-las com o calor da vida”.

Mais adiante, no Prefácio do livro, Shelley cita mais uma vez o nome do Dr. Erasmus Darwin, o qual segundo a autora lhe dava a entender que o fato sobre o qual se fundamentava a ficção não seria algo impossível de acontecer:
“O doutor Darwin e alguns fisiologistas alemães têm dado a entender que o fato sobre o qual se fundamenta esta ficção não é impossível de acontecer. Não se deve pensar que eu alimente a menor crença em tal imaginação; no entanto, admitindo-a como a base de obra de fantasia, eu não me considerei como apenas tecendo uma série de terrores sobrenaturais. O fato do qual depende o interesse da história está isento das desvantagens de um simples conto de espectros ou encantamento. Foi sugerido pela originalidade das situações que ele desenvolve e, conquanto impossível como um fato físico, proporciona um ponto de vista à imaginação, para o delineamento das paixões humanas mais compreensivo e imperioso do que podem oferecer quaisquer umas das relações comuns dos acontecimentos reais.”

Já no enredo da história, o Dr. Victor Frankenstein, aquele que arquitetou e consumou a criação do terrível monstro, quando na tentativa de criar a versão feminina desta criatura, faz menção de umas tais descobertas realizadas por cientistas da Inglaterra, país onde nasceu e viveu o Dr. Darwin, e para onde ele planejava viajar na busca de novos conhecimentos para seu novo empreendimento científico:
“A criação de uma fêmea significava a volta ao meu trabalho nefando de outrora, meses e meses de estudos e pesquisas laboriosas. Ouvira falar de umas descobertas que tinham sido feitas por um cientista inglês, cujo conhecimento era importante para o meu êxito, e por várias vezes cogitei de acertar com meu pai minha viagem à Inglaterra, sem, naturalmente, dar-lhe a conhecer o meu real objetivo.” / “Lembrei-me também da necessidade de viajar à Inglaterra ou manter uma correspondência, certamente longa, com os cientistas daquele país, cujas recentes descobertas eu considerava de utilidade indispensável ao empreendimento que tinha de realizar. Esse, porém, seria um meio por demais demorado e insatisfatório de obter as informações que desejava.”

O avô de Charles Darwin, que era membro de uma tal Sociedade Lunar (“Lunar Society of Birmingham”), é também considerado um dos fundadores do evolucionismo, ao lado de Spencer e outros nomes. Esta sociedade tinha por finalidade buscar novos conhecimentos que combatessem o “obscurantismo religioso”. Paradoxalmente, porém, o Dr. Darwin fez do seu naturalismo extremo sua própria religião, chegando mesmo a afirmar que as plantas tinham alma e por isso eram capazes de expressar emoções. Talvez isso explique em partes porque seu famoso neto, Charles Darwin, o ignorou quase que completamente em suas obras.

É isso!

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