domingo, 4 de julho de 2010

"Darwin e o Darwinismo", de Denis Buican

"Darwin e o Darwinismo" - Denis Buican
Jorge Zahar Editor


Como de hábito, perambulando em um dos muitos sebos do centro de São Paulo, deparei-me com o livro "Darwin e o Darwinismo", do professor da Sorbonne, Denis Buican. Embora o autor seja mais um daqueles que colaboram no processo de "endeusamento" do naturalista inglês, quando discorre, por exemplo, acerca da eugenia, ele, no entanto, não nega a influência de Darwin neste âmbito:

Para Darwin, a jóia da civilização europeia é o mun do anglo-saxão: "A superioridade notável que tiveram, so bre outras nações europeias, os ingleses, como coloniza-dores, superioridade atestada pela comparação dos pro gressos realizados pêlos canadenses de origem inglesa com os de origem francesa foi atribuída à sua 'energia persistente e à sua audácia'; mas quem poderia dizer como os ingleses adquiriram essa energia? Certamente, há muita verdade na hipótese que atribui ã seleção na tural os maravilhosos progressos dos Estados Unidos, assim como o caráter de seu povo; os homens mais cora josos, mais enérgicos e mais empreendedores de todas as partes da Europa emigraram durante as dez ou doze últimas gerações, para irem povoar esse grande país e lá prosperaram."
Assim, Darwin volta à sua teoria da seleção natural, para explicar o progresso da humanidade e dos po vos: "Se não tivesse sido submetido à seleção natural durante os tempos primitivos, o homem, certamente, nunca teria atingido a posição que ocupa hoje. Quando vemos, em muitas partes do mundo, regiões extremamen te férteis, povoadas por alguns selvagens errantes, en quanto poderiam alimentar numerosas famílias próspe ras, inclinamo-nos a pensar que a luta pela existência não foi suficientemente rude para forçar o homem a atin gir seu estado mais elevado.
Falando da ação da seleção natural sobre as nações "civilizadas", Darwin fica muito próximo das ideias de Wallace e Galton, isto é, da eugenia: "Entre os selvagens, os indivíduos fracos de corpo ou de espírito são pron tamente eliminados, e os sobreviventes são geralmente notáveis por seu vigoroso estado de saúde. Quanto a nós, homens civilizados, fazemos, ao contrário, todos os es­forços para deter a marcha da eliminação; construímos hospitais para os idiotas, os inválidos e os doentes; fa zemos leis para ajudar os indigentes; nossos médicos utilizam toda a sua ciência para prolongar, tanto quanto possível, a vida. Podemos crer que a vacina preservou milhares de indivíduos que, fracos de constituição, te riam outrora sucumbido à varíola. Os membros débeis das sociedades civilizadas podem, pois, reproduzir-se in definidamente. Ora, quem trata de reprodução de ani mais domésticos sabe perfeitamente quanto essa perpe­tuação dos seres débeis deve ser nociva à raça humana".
Apesar desse temor pela descendência do homem, na ausência da seleção natural, Darwin, moderado por uma concepção humanista, não leva seu raciocínio até um eugenismo exacerbado, pois, diz ele, abandonando os fra cos e os inválidos, "só poderíamos ter em vista uma van tagem eventual, às custas de um mal presente, conside rável e certo. Devemos, pois, suportar sem nos queixar­mos os efeitos incontestavelmente maus, que resultam da persistência e da propagação dos seres débeis. Parece, todavia, que existe um freio para essa propagação, pois os membros doentios da sociedade se casam menos fa cilmente que os membros sãos. Esse freio poderia ter uma eficácia real, se os fracos de corpo e de espírito se abstivessem do casamento; mas esse é um estado de coi sas que é mais fácil desejar que realizar".

É isso!

Fonte:
DENIS BUICAN. “Darwin e o Darwinismo”. Jorge Zahar Ediror. Rio de Janeiro, 1987, p. 66-67

"Darwin e Kardec: um diálogo possível", de Hebe Laghi de Souza

"Darwin e Kardec: um diálogo possível" - Hebe Laghi de Souza
Editora Allan Kardec

Num dias desses, passeando pela Internet, dei por conta do livro "Darwin e Kadec, um diálogo possível", da bióloga Hebe Laghi de Souza. Por simples curiosidade li toda a obra. Já era do meu conhecimento que o religioso Allan Kardec, ao erguer sua doutrina espírita, utilizou-se dos pressupostos darwinistas, mais precisamente do conceito de "evolução como progresso". E o objetivo deste livro, é exatamente o de tentar "provar" que "as leis da natureza, reveladas por Charles Darwin, se põe paralelas às do mundo espiritual, codificadas por Allan Kardec" (do livro).

MEUS DESTAQUES:
"O impacto causado pelo livro de Charles Darwin foi bem mais rumoroso que o de Allan Kardec porque, não somente mostrava o homem como animal, como fazia mais do que isso, excluía completamente a existência de Deus.
O Espiritismo, muito embora tenha atingido também os princípios religiosos reinantes naquele momento e, da mesma forma, tenha abordado a evolução, um pouco mais ainda que a teoria de Darwin, apresentando todos os fatos desde a origem do universo, abria as portas para uma visão de Deus, apesar de bem diferenciada daquela que, até então, havia reinado no coração e no entendimento das pessoas; e indicava, além disso, um caminho inédito para alcançá-lo. Muitos se renderam a ele e dele se tornaram adeptos.
As religiões tradicionais, porém, o enfrentaram, assim como todos os que permaneceram fiéis a elas. Allan Kardec foi, portanto, também criticado, discutido e contestado.
Quanto à sociedade, havia a possibilidade de escolha, podia ou não aceitar a nova filosofia religiosa; para os que a ela aderiram foi possível entender que não apenas nos indicava uma procedência evolutiva a partir dos símios, como descendentes deles, mas que em uma época de nossa vida fomos símios, cobrimo-nos com aquela vestimenta. Fomos gorilas, não apenas descendemos deles!
Esse, para mim, é o aspecto mais importante da teoria espírita, ou seja, o de nos colocar como seres espirituais, apontando o caminho para a conquista da superioridade, para a construção de nós mesmos, por meio de um contínuo evoluir. Mostra-nos a tortuosa estrada pela qual temos passado, desde os elementos mais simples como os átomos, invertebrados, vírus e bactérias, vermes e insetos até aos vertebrados como peixes, répteis, mamíferos e, destes aos símios, dos quais descendemos. Na fronte não ostentamos, em nossa origem, o timbre da realeza, nem nos foi dado um paraíso celestial do qual acabamos por ser expulsos pela nossa imperfeição.
A Sabedoria Divina nos criou simples e ignorantes, mas dispôs nosso futuro de forma que pudéssemos alcançar o lugar que desfrutamos, como seres humanos, trazendo impressos na alma os primórdios dos conhecimentos instintivos sobre nós mesmos, sobre o amor, sobre o altruísmo e o respeito à vida de um modo geral.
O kardecismo apresenta, pois, o espírito humano como produto decorrente de um longo processo evolutivo a partir do princípio inteligente até a alma humana. Durante o decorrer desse processo, imprimimos em nosso íntimo o conhecimento de nós próprios e do universo, de Deus Criador e de sua natureza eterna, sábia e cheia de amor."

É isso!

Fonte:
"Darwin e Kardec: um diálogo possível". Hebe Laghi de Souza. Editora Allan Kardec. Campinas, 2007, p. 6,7.

"O Anjo de Darwin", de John Cornwell

"O Anjo de Darwin: uma resposta seráfica a Deus um Delírio" - John Cornwell
Imago Editora

Li recentemente o livro "O Anjo de Darwin: Uma crítica seráfica a Deus, um Delírio", de John Cornwell, publicado pela Editora Imago. Todo a obra funciona como um conselheiro seráfico (de serafim, angelical) ao autor de Deus, um Delírio. Com esta proposta, Cornwell não se propõe a defender cegamente a religião ou a se colocar em defesa dos dogmas estabelecidos, mas se põe a favor de uma convivência pacífica entre ciência e religião, fato este que, para o fundamentalismo de Dawkins, parece impossível e indesejável.

MEUS DESTAQUES:
"Algumas palavras, agora, sobre sua Utopia. Você fez uma pro­messa entusiástica de felicidade definitiva, contanto que seus leitores confiem em você. Você quer que eles acreditem em um paraíso que será deles quando a religião finalmente for varrida da face da Terra. Você lhes oferece uma versão da famosa canção de John Lennon, "Imagine":
"Imagine... um mundo sem religião. Imagine o mundo sem ataques suicidas, sem o 11/9, sem o 7/7 londrino, sem as Cruzadas, sem caça às bruxas... sem as guerras entre israelenses e palestinos, sem massacres sérvios/croatas/muçulmanos, sem a perseguição de judeus como 'assassinos de Cristo', sem os 'problemas' da Irlanda do Norte... sem o Talibá para explodir estátuas antigas...”
Sua lista me parece bastante boa (embora alguns dos seus exem­plos possam ter sido o resultado de tensões seculares), mas ela omite dois períodos catastróficos da história recente: a União Soviética de Stalin e a Alemanha de Hitler. Talvez devêssemos nos preocupar o rato de o stalinismo e o nazismo terem revelado o tipo de mundo que surge quando a religião concorda não simplesmente com qualquer coisa, mas com a ciência como ideologia, combinada com ateísmo militante?
Você pretende de fato substituir a religião pela ciência, não é mesmo? "Se o desaparecimento de Deus deixar uma lacuna," você diz a seus leitores, "... Meu caminho inclui uma boa dose de ciência, o empenho honesto e sistemático de descobrir a verdade sobre o mundo real." Estarei eu detectando aqui um eco das palavras de Cristo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"?
[...]
Não deveria nos preocupar, no entanto, o fato de a ciência triunfalista ter se associado, no século passado, ao totalitarismo? Não deveríamos nos inquietar, mesmo só um pouquinho, por a ciência ter sustentado filosofias políticas que visavam escravizar a humanidade em lugar de promover a liberdade? Seria talvez o caso de rsiarmos ansiosos com relação às tecnologias que a ciência gerou, causando a poluição do planeta a ponto de ameaçar sua própria sobrevivência? E o que dizer das armas de destruição em massa? Quanto às explicações, temos aquelas que as filosofias "cientísticas", materialistas e deterministas apresentaram defendendo a desconstruçao da pessoa humana e do livre-arbítrio. Não deveríamos estar preocupados com tudo isso num mundo baseado na ciência e no ateísmo militante?" (p. 75-77).
...
"Você informa a seus leitores, com o nítido desmentido — "talvez por ingenuidade" — que tendeu para uma visão menos cínica da natureza humana do que a de Dostoievski. "Será que realmente preci samos de policiamento — seja feito por Deus ou por nós mesmos — para que não nos comportemos de modo egoísta e criminoso? Quero muito acreditar que não preciso dessa vigilância — nem você, caro leitor."
Parece que há um mal-entendido entre você e o grande escritor, talvez em decorrência de sua interpretação equivocada da sua obra; talvez por você ter comparado antecedentes com experiência de vida. Você nunca passou uma temporada na prisão. Você caminhou, em jornada sem acidentes, do ensino elementar para a escola secundária particular, até Oxford, onde foi residente em boa parte de sua carreira e onde você consolidou sua visão essencialmente otimista do mundo.
Dostoievski começou a escrever Os irmãos Karamazov em 1878, aos 57 anos de idade. Ainda em criança, sofreu a perda de seus pais (acredita-se que o pai foi assassinado) e na casa dos 30 esteve preso por cinco anos, incluindo vários meses no corredor da morte e quatro anos em um campo de trabalhos forçados. Era epiléptico, e sua saúde mental sofreu por ter sido submetido a uma execução simulada, ficando diante de um pelotão de fuzilamento para ser liberado só no último instante. Seu crime foi pertencer a uma sociedade secreta de cunho liberal.
Dostoievski teve experiência direta com o sofrimento e a tragédia em altas doses: um campo de trabalhos russo, em meados do século XIX, superlotado, onde faltavam alimento e higiene e abundavam piolhos e doenças. Já na casa dos 40 tentava entender o sentido de toda aquela perversidade e violência, à luz da influência das ideias que vinham do Ocidente, que incluíam o Utilitarismo inglês de Bentham e Stuart Mill, o Marxismo Utópico e um conjunto de ideias que você teria aprovado — Darwinismo Social. Dostoievski também lutava para compreender como o cristianismo podia resistir ao novo Niilismo Russo (que rejeitava todas as formas de religião, moralidade e política). Os conflitos e tensões entre essas ideologias rivais e a religião são, com efeito, dramatizadas em detalhes em seus grandes romances".

É isso!

Fonte:
"O Anjo de Darwin: uma resposta seráfica a Deus um Delírio". John Cornwell. Imago Editora. São Paulo, 2007, p. 64.

"A expressão das emoções no homem e nos animais", de Charles Darwin

"A expressão das emoções no homem e nos animais" -Charles Darwin
Editora Schwarcz

Acabei de ler "A expressão das emoções no homem e nos animais", de Charles Darwin!
Se não fora à época em que estava inserido seu autor e se não fora a incipiência das ciências biológicas naquele momento , diria que li um trabalho de biologia de um aluno do Ensino Médio da escola pública brasileira. Embora um pouco mais que um pires, o livro destaca-se por ser de leitura menos maçante entre outros do naturalista, como o mais famoso: "A Origem das Espécies". Em todo livro Darwin busca "provar" que tanto as emoções do homem quanto os sentimentos dos animais são óbvios resultados da evolução ao longo dos tempos. Raiva, ódio, bom humor, alegria, desdém, culpa, orgulho, medo, vergonha, timidez, amor etc. são características que se encontram entre todos os povos, e isso em si já serve como demonstração da ancestralidade comum universal. São abundantes as analogias entre as emoções humanas com aquelas supostamente observadas entre as muitas espécies de macacos. Obviamente a idéia é tentar realçar a "semelhança evolutiva" entre ambas as espécies. O macaco, para Darwin, é o nosso parente mais próximo, e as emoções que se vêem nele atestam esta "verdade". Todavia, parece que as crianças transparecem mais esta similaridade, especialmente as "crianças selvagens":

"Vemos assim que a protrusão dos lábios, especialmente em crianças pequenas, é uma manifestação característica de amuo na maior parte do mundo. Esse movimento parece resultar da permanência, principalmente durante a mocidade, de um há bito primevo, ou de ocasional retorno a ele. Orangotangos e chimpanzés jovens protraem os lábios num grau extraordiná rio, como descrevemos em capítulo anterior, quando estão des­contentes, um tanto irritados, ou amuados; também quando es­tão surpresos, um pouco assustados e mesmo quando sentem certa satisfação. Aparentemente, sua boca se protrai com a fi­nalidade de produzir os diversos sons correspondentes a cada um desses estados de espírito; e sua forma, como pude observar no chimpanzé, difere um pouco no momento de emitir os gri tos de prazer ou de raiva. Tão logo esses animais ficam furio sos, a forma de suas bocas se modifica inteiramente, e os dentes são expostos. Dizem que o orangotango adulto, quando ferido, emite "um grito singular, que se inicia com notas agudas que vão se transformando em ronco grave. Enquanto solta as notas agudas, ele protrai os lábios em forma de funil, mas nas notas graves deixa a boca bem aberta". No gorila, aparentemente o lábio inferior é capaz de se alongar muito. Portanto, se nossos ancestrais semi-humanos protraíam os lábios quando amuados ou um pouco irritados — da mesma maneira como o fazem os atuais macacos antropoides —, não é um fato anômalo, ainda que curioso, nossas crianças exibirem resquícios da mesma ex­pressão quando no mesmo estado de espírito, juntamente comcerta tendência a produzir ruído. Pois não é de forma alguma estranho os animais conservarem, mais ou menos perfeitamen­te, na tenra infância, para mais adiante perderem, as caracterís­ticas nativas de seus ancestrais adultos, e que ainda são conser­vadas por espécies distintas, seus parentes próximos.
Também não é excepcional o fato de as crianças selvagens terem mais tendência a protrair os lábios quando amuadas do que as crianças europeias civilizadas; pois a essência da selvageria parece consistir na manutenção de uma característica pri mitiva, o que também se aplica, ocasionalmente, a peculiarida des físicas" (p. 199).

As passagens sobre os "diferentes tipos de raças humanas" florescem toda a obra: "Entretanto, se observarmos as diferentes raças do homem, esses sinais não são tão universalmente empregados quanto eu esperaria" (p. 235). / "A expressão de tristeza, gerada pela contração dos músculos da tristeza, de forma alguma se restringe aos europeus, mas parece ser comum a todas as raças humanas" (p. 160). / "Pelas respostas que recebi dos questionários que enviei, homens de todas as raças franzem o semblante quando estão por alguma razão perplexos" (p. 190). / "Entretanto, não é de forma alguma improvável que essa expressão animalesca seja mais comum entre as raças selvagens do que entre as civilizadas" (p. 214). E por aí vai...

É claro, em se tratando de Darwin, não poderia faltar aquela pitoresca pérola, com a qual encerro essas minhas ligeiras impressões:
"O dr. Maudsley, depois de fornecer uma série de detalhes sobre traços animalescos nos idiotas, indaga se eles não se deveriam ao reaparecimento de instintos primitivos — "um apagado eco de um passado distante, atestando um parentesco que o homem já quase deixou para trás". Ele acrescenta que como todo cérebro humano passa, ao longo de seu desenvolvimento, pelos mesmos estágios dos vertebrados inferiores, e como o cérebro de um idiota é retardado, podemos presumir que ele "manifestará suas funções mais primitivas e nenhuma função superior". O dr. Maudsley acredita que essa mesma hipótese pode ser estendida ao cérebro em estado de degeneração de alguns pacientes loucos. E pergunta de onde vêm "o rosnado furioso, a disposição violenta, a linguagem obscena, os uivos selvagens e os hábitos agressivos manifestados por alguns dos loucos? Por que deveria um homem, privado de sua razão, tornar-se de caráter tão brutal, como é o caso de alguns, a não ser que a natureza brutal esteja nele próprio?" (p. 208).

É isso!

"O Darwinismo ou o Fim de um Mito", de Rémy Chauvin

"O Darwinismo ou o Fim de um Mito" - Rémy Chauvin
Instituto Piaget

Com esta obra, o mundialmente conhecido biólogo, Rémy Chauvin, traz à tona as inúmeras fragilidades do darwinismo, abrindo espaço para um debate que há muito já deveria ter-se iniciado. Embora rechace as pretensões darwinistas de lídima ciência, Chauvin não pretende oferecer uma alternativa a Darwin. Segundo ele: "não há apenas dois partidos, mas três: acreditar em Darwin, acreditar na criação sob a forma mais ingênua, ou o terceiro partido, o mais objetivo: confesar que se sabe demasiadamente pouco para se poder avançar uma conclusão, seja qual for... Esta última conclusão é a que tem a minha preferência, e não sou o único a aderir a ela" (p. 32).

MEUS DESTAQUES:
“Evoquei atrás o espanto que tomou conta de mim quando testemunhei, pela primeira vez na minha vida, o desvio darwinista para a violência nas conversas, e mesmo para a injúria. Teremos de admitir que esta tendência vai generalizar-se, pelo menos em certos meios? Penso que sim, e poderá constatá-lo quem ler Dawkins ou Dennett (já Monod manifestava esta tendência); aliás, foi por isso que lhes conferi um tão grande destaque, para que os leitores se não habituem a considerar o darwinismo como uma teo ria igual às outras. Ele é muito mais do que isso...
Falava Dennett das «perigosas ideias de Darwin», que comparava com um ácido que corrói subtilmente todas as velhas fórmulas e todas as velhas crenças. Com efeito, foi nisso que o darwinismo se transformou (Darwin não ignorava que isso aconteceria) e Dennett alegra-se com esse facto, porque o seu ideal é o materialismo integral.
[...]
E, com efeito, eis a situação que «profetas» indiscretos como Monod, Dawkins e Dennett não consideraram seriamente: uma grande parte dos nossos concidadãos (e a quase totalidade daqueles que não têm cultura científica, isto é, a maioria, em consequência do fracasso do nosso sistema de ensino) tem medo, e por vezes horror à ciência; sobretudo por causa da bomba atómica e da poluição, mas o seu medo vai muito para além destes temores, afinal justificados: porque os perigos do átomo e da poluição resultam da ciência e do produtivismo industrial, que dela decorre direc tamente. Qualquer campanha anticientífica tem um eco imediato, que me assusta.
Na verdade, as pessoas não gostam de nós; alguns cientistas dis­seram realmente demasiadas tolices, que não procediam da ciência, mas apenas das suas preferências filosóficas pessoais. Se de facto a ciência dá do mundo uma imagem insuportável, se priva a vida do seu sentido (e é claramente essa a conclusão do livro de Monod, sem esquecer o eco que dele fazem Dawkins e Dennett), suprimamos a ciência! É muito fácil, basta reduzir os financiamentos aos laboratórios.
Será isso impossível e inoperante? Realmente? Suponhamos que o governo, acossado por preocupações financeiras, decide reduzir o orça mento da investigação (que é o que está já a fazer). Pensa o leitor que a população se preocuparia com isso? Acha que uma manifestação de investigadores que exigissem financiamento provocaria grande emoção? Mas então, para sossegar as pessoas, deveremos regressar ao bom velho criacionismo?
Naturalmente que isso seria completamente absurdo, tanto mais que o criacionismo não explica coisa alguma, o mesmo acontecendo com o darwinismo, como veremos adiante. Pretender que o Deus criador auxiliou pessoalmente o Ichtyostega a sair do oceano no devoniano não nos ajuda a compreender o que se passou; ora, é isso que a ciência deseja antes de mais: compreender o mecanismo interno e fisiológico que susci tou esse fenómeno.
Na realidade, os criacionistas actuais procedem com base numa teo logia absolutamente ingénua, à qual a religião há muito renunciou. Na teologia moderna, a matéria depende do Deus criador, mas Deus não depende da matéria. O próprio acto criador está rodeado de um mistério profundo e, se Deus viesse explicar-no-lo, seria trabalho perdido, porque não o compreenderíamos! Deus esteve na origem dos mecanismos subli mes que nós procuramos desvendar; e o pouco que deles compreendemos faz-nos mergulhar na admiração... Mas a sua origem continua rodeada de bruma, e eu quase diria, parafraseando Pascal, que «o mistério eterno destes mecanismos infinitos assusta-me».
O que é preciso fazer é estudar, procurar compreender. E abandonar o orgulho. Ainda sabemos muito poucas coisas; não sabemos o suficiente para vaticinarmos e pretendermos, como os darwinistas, que já compreen demos tudo, ou que possuímos a teoria definitiva, que é a mesma coisa” (p. 14, 15).

É isso!

Fonte:
Rémy Chauvin. O Darwinismo ou o Fim de um Mito”. Instituto Piaget. Lisboa, 1997.

sábado, 3 de julho de 2010

"Veranico de Janeiro", de Bernardo Élis

"Veranico de Janeiro" (contos) - Bernardo Élis Fleury de Campos Curado
Livraria José Olympio Editora. Rio de janeiro, 1976.

No ano de 1987 ganhei de um amigo o livro “Veranico de janeiro”, de Bernardo Élis, publicado pela prodigiosa Livraria José Olympio Editora, edição de 1976. Guardei-o sem ler. Passaram-se vinte e três anos, quando, finalmente, tirei-o da prateleira para degustá-lo saborosamente. O livro é composto de seis contos (“A Enxada”, “Rosa”, “O padre e um sujeitinho metido a rabequista”, “Dona sá Donana” e o "Os foxicos da fontev do taquari”. Em nota da segunda edição, escreveu Herman Lima:

"O livro tira o fôlego, desde as primeiras páginas, tudo nele é força telúrica, imprecação de denúncia, brutalidade da natureza conluiada com o homem, na martirização do homem, na carên cia de alma, naquela fria maldade inelutável do meio—vida e gente. Figuras como a do velho agiota Benedito, no seu cruel prestígio do todo-poderoso mandonismo sertanejo, possesso da ga nância, na cobrança de dívidas a sangue; episódios como a lou cura final do mísero Supriano, esfuroando a terra com os tocos dos dedos, com os ossos do punho a nu, esbrugados em raízes e pedregulhos, depois daquela tão lancinante via-sacra em busca de uma enxada, "uma enxada!" que lhe facultasse o cumprimento da promessa de plantio do arroz do monstro, dão um choque, um espanto novo, embora narrados na mesma parcimônia de linguagem e na total ausência de sensacionalismo por parte do autor. Mas, tudo tem um cunho de irremediável autenticidade, uma ferocidade de exíramuros da civilização, um egoísmo infrangível e total. Há uma pinta hoffmânnica sem dúvida ao gizar daquela sinistra simbiose da mulher paralítica na cacunda do filho mentecapto, cavalgata apocalíptica que marca fundo na gente. Há o mesmo tenebroso afã daquele carreteiro da Morte, de certa maravilhosa novela de Selma Lagerlof, correndo as casas da sua aldeia, durante todo o primeiro ano depois de deixar a vida, na expiação de grandes pecados, quando Bernardo Élis nos mos tra o tropeiro seu patrício, bom samaritano, de porta em porta a pedinchar guarida para o triste "defunto" que não quer morrer, e há, captando a solidariedade integral do leitor, a torva miséria da meretriz, privada do pobre catre dos seus amores mercenários, quando nele se instala o enfermo renitente, e, de par com a fome na casa sem o seu sustento, a mágoa maior de lhe faltar também o vestido novo para a festa do Divino. Aqui a arte do contador culmina, ao entrechoque de tantos desesperos com o contracanto dos festejos religiosos que vem na asa do vento, em back-ground musical, e mete de choça adentro a irresistibilidade daquele con vite de gaitas, zabumbas e coplas de folguedo afro-brasileiro, no seu avassalador sortilégio.
A mulinha empacadora, doutro conto, o do vigário bonachei rão e do vigarista de maus bofes, desde logo identificado pelo bom cura, entra de vez sem favor na família já hoje ilustre doutros quadrúpedes do seu jaez, a mula do papa de Avinhão, de mestre Daudet, à espera dos sete anos para pregar no pajem trapaceiro que a levara às grimpas da torre do palácio o bom par de coices da vindita, aquela ideia que "lui redonnait un peu de coeur au ventre; sans cela n'aurait pás pu se tenir...", como também aquele Mansinho, de João Alphonsus, em cuja cova o pároco não se pode furtar à reza de um responso; ou ainda o burrinho pedrês de Guimarães Rosa, "miúdo e resignado, vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei de onde no sertão." Mas, todas elas, suas criaturas, sem dependência alheia, vivendo por si, na poderosa fixação dos traços de cada uma, em transfiguração artística verdadeiramente excepcional, desde a mais gigantesca, no seu drama, como é o Supriano, tão monstruoso na sua tortura de Quasímodo rústico, até a mais humilde e anódina, ou seja, digamos, aquela Siá Rosa, comendo vento e fedendo a cavalo, sempre na esperança de uma chuva redentora da sua terra.
Nelas nada falseia, o corte vertical ê exato, o vocabulário que as reveste é o próprio, vem com a marca autóctone de uma rapsó dia bárbara da gleba, na sua prodigiosa carga idiomática de la mento fundo ou de áspero libelo” (Rio de Janeiro, outubro de 1965).

O texo a seguir, extraído do conto “A enxada”, sintetiza o drama vivenciado por um sertanista pobre em sua busca desesperada por uma simples enxada, com a qual poderia redimir-se diante de seu ambicioso patrão. A linguagem tipicamente regionalista dá o tom ao conto, enriquecendo-o magistralmente:

“Os dois homens desapareceram e Piano se martirizava recom­pondo na cabeça a cena da cadeia, as pranchadas de refe, os maus-tratos dos soldados. "Num matei, num roubei, num buli com muié dos outros, gente, O que eu quero é uma enxada pra mode lavorar. E num quero de graça não. Agora não posso pagar, mas a safra taí mesmo e eu pago com juro!"

Arrancou-o desse reinar uma topada desgraçada numa pedra cristal. Então é que deu por fé que regressava para o rancho. Quede Seu Joaquim? Quede a casa dele, com Dona Alice, o porco e os meninos? Tudo tinha ficado para trás, lá longe. Trans­posto o córrego, estaria em terras de Seu Elpídio; daí, pegando o atalho por dentro das terras baixas entupidas de tiriricas, ia sair no seu rancho.
O pé sangrava e doía. Piano parou na grota, meteu o pé na água fresca e caçou jeito de estancar o sangue com o barro pe gajoso da margem, com que barreou a ferida. Nesse ponto, sentiu fome. Uma bambeza grande pelo corpo que suava. Veio-lhe tam bém a lembrança de que ali ao lado estava o terreno que Terto descoivarou e que ele deveria plantar. A lembrança aumentou-lhe o mal-estar, trazendo a sensação de que o amarravam, o sujigavam, tapavam-lhe a suspiração, o estavam sufocando.
Num salto, deixou a grota e saiu numa carreira de urubu pelo caminho fundo, sem ao menos querer voltar a vista para o lado do terreno da roça. Muito adiante foi que moderou o galope. Uma canseira forte o dominava; sua respiração saía rascante e dificultosa por causa do papo, aquele papo incómodo que pesava quase uma arroba. Diminuiu o chouto, chupou fôlego e, sentindo a vista turva, se assentou. Passada a zonzura, percebeu que fazia um calor de matar, embora não se visse o sol. Nuvens pesadíssi mas, negras, baixas, toldavam o céu. "Tomara que chova." Com esse veranico. quem é que pode plantar? Embora desprevenido de enxada, se o diabo desse solão continuasse como ia, não so bejaria qualquer esperança de colheita. "Tomara que chova." Chuva muita, dessa chuvinha criadeira, porque no dia seguinte Seu Elpídio a mandar soldado saber se a roca estava plantada. Chuva dia e noite. Não chuva braba. que Santa Bárbara o de fendesse, que essa levaria a terra, encheria o córrego e arrastaria todo o arroz que Piano ia plantar pela encosta arriba, o arroz que crescia bonito, verdinho. verdinho. fazendo ondas ao vento.
Um grande alívio encheu o peito do horaem. sensação de de­safogo, como se houvesse já plantado a roça inteirinha, como se o arrozal subisse verdinho pela encosta, ondeando ao vento. "Será que já plantei o meu arroz? Sim. Plantara. Pois não vira a roça que estava uma beleza?" Agora o que sentia era um desejo da nado de ver o seu arrozal, a roça que já havia plantado e que se estendia pela encosta arriba. Queria ter certeza de que a plan tara. Queria pegar no arroz, tê-lo em suas mãos. Mas o diabo era que o terreno ficava lá para trás, na beira do córrego, e seu corpo não pedia voltar até lá. Estava cansado, cansado, muito cansado mesmo” (p. 47, 48).

É isso!

"Sagarana", de João Guimarães Rosa

"Sagarana" - João Guimarães Rosa
Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1976

Guimarães Rosa foi um dos meus maiores desafio de leitura. Embora já tivesse lido outros contos do autor, foram os contos de "
Sagarana" que me levou a vislumbrar as deliciosas veredas deste belíssimo escritor mineiro. O livro é composto dos seguintes contos:
O Burrinho Pedrês”, “A volta do marido pródigo, “Sarapalha”, “Duelo”, “Minha Gente”, “São Marcos”, “Corpo Fechado”, “Conversa de Bois” e “A hora e vez de Augusto Matraga”. Na 18ª edição, que encontrei num desses férteis sebos de São Paulo, enfeita a obra o delicioso ensaio de Oscar Lopes, que escreve:

"A construção do romance em
flash-back serve,
como a toda a me lhor épica desde a Odisseia, para melhor ordenação rítmica do recanto, num jogo de compensações; serve ainda para enlace dos temas secundá rios (como as recorrências da "canção de Seruiz", com o tema da saudade da terra natal; ou como o desdobramento da experiência erótica até à fixação final, através, nomeadamente, dos complexos que a figura de Diadorim representa); mas serve sobretudo para pôr forma aguda e concreta a dialética do bem-e-mal, ou seja, do pacto. Riobaldo adere a sucessivos chefes de jagunços, e acaba mesmo por ser um desses chefes, porque descobre que os cangaceiros têm a sua ética. Á ética, afinal, que a organização gentílica e, depois, feudal idealizou com Aquiles, Ulisses, Rolando ou o Cid. Ética dotada de instituições, de uma ideologia e até de uma retórica — pois assistimos a coisas como um julgamento em forma entre cangaceiros; a luta entre bandos emaranha-se com lutas políticas estaduais ou federais, o que a alguns dá o sentimento de levantamento revolucionário ou de exército regular oficializado; e há discursos patrióticos, legalistas, com todos os ingredien tes demagógicos da retórica política brasileira at its worst. O status final do narrador, feito proprietário pacato, sugere que a luta entre bandos se resolvera, pelo menos em grande parte, com o extermínio dos Hermógenes. Mas foi o pacto que o permitiu, quer dizer: a dialética do bem e do mal, como fins ou como meios. Recordemos a propósito a Orestia de Esquilo, em que a moral gentílica da vingança, ou vendetta, entre clãs, ou dentro dos clãs, se resolve absorvendo o último vingador, Ores-tes, e instituindo o tribunal da Cidade, passando as Fúrias (deusas da 'Vingança antiga, retaliação meramente familiar) ao serviço de uma nova forma de vingança, ou repressão, superior, institucionalizada pelo Es tado. Simplesmente, Guimarães Rosa, edificado por mais dois milênios e meio de experiência histórica e pela evidência imediata do seu mundo, reabre o problema que Esquilo julgara estar resolvido. Nenhumas ilu­sões maniqueístas sobre o dualismo absoluto do bem e do mal. O ho mem continua pactário. Ninguém chegou ainda à destrinça inequívoca, e, como insinua a bela "estaria" "O Espelho", todos deveriam estreme cer à simples pergunta de "Você chegou a existir?" Hermógenes não estava definitivo. Mas ainda ele não fora morto, e já nos Gerais havia um homem como Habão que não sabe olhar para outro homem sem o ver na qualidade de força trabalhadora anónima, reprodutora de investimento, tal como a Medusa, que convertia, a um simples olhar, qualquer mortal em rochedo. O Taturana fêz-se, ele próprio, Habão, sem dar por isso. Todos continuamos Faustos, ou Orestes, e mais inaca bados são ainda os que o não sabem."

E, como texto-ilustrativo, selecionei este trecho do conto "Conversa de boi", que segue como estímulo aos que também desejam superar a dificuldade inicial de se penetrar na maravilhosa linguagem do genial autor de "
Grandes Sertões: Veredas":

"que
já houve um tempo em que eles conversavam, entre si e com os homens, é certo e
indiscutível, pois que bem comprovado nos livros das fadas carochas. Mas, hoje-em-dia, agora, agorinha mesmo, aqui, aí, ali, e em toda a parte, poderão os bichos falar e serem entendidos, por você, por num, por todo o mundo, por qualquer um filho de Deus?!
— Falam,- sim senhor, falam!... — afirma o Manuel Tim borna, das Porteirinhas, — filho do Timborna velho, pegador de passarinhos, e pai dessa infinidade de Timborninhas bar rigudos, que arrastam calças compridas e simulam todos o mesmo tamanho, a mesma idade e o mesmo bom-parecer;— Manuel Timborna, que, em vez de caçar serviço para fazer, vive falando invenções só lá dele mesmo, coisas que as outras pessoas não sabem e nem querem escutar.
— Pode que seja, Timborna. Isso não é de hoje:... "Viso sub obscurum noctis pecudesque locutae. Infandum!,.." Mas, e os bois? Os bois também?...
— Ora, ora!... Esses é que são os mais!... Boi fala o tempo todo. Eu até posso contar um caso acontecido que se deu.
— Só se eu tiver licença de recontar diferente, enfeitado e acrescentado ponto e pouco...
— Feito! Eu acho que assim até fica mais merecido, que não seja" (p. 287).

É isso!

"Darwiniana: A Origem das Espécies em Debate", de Thomas Huxley

"Darwiniana: A Origem das Espécies em Debate" - Thomas Henry Huxley
Editora Madras

Li muito recentemente este livro publicado pela Editora Madras, que reúne alguns ensaios de Thomas Huxley, cientista e grande amigo do naturalista inglês Charles Darwin. Por sua defesa apaixonada ao autor de "A Origem das Espécies", Huxley recebeu a merecida alcunha de "Bulldog de Darwin". No ensaio VIII ("Charles Darwin"), de 27 de abril de 1882, no mesmo mês e ano da morte de Darwin, escreveu fazendo jus ao seu "cão de Darwin":

"Era esse raro e maior talento que mantinha sua viva imaginação e grande poder especulativo, dentro dos devidos limites, que o impeliu a empreender os trabalhos prodigiosos da investigação e da leitura original sobre as quais suas obras publicadas se basearam; que o fizeram aceitar críticas e sugestões de qualquer e de todas as pessoas, não somente com paciência, mas com expressões de gratidão e, às vezes, comicamente, além de seu real valor, e que o levou a não permitir que ninguém fosse ludibriado por frases e sem economizar tempo e sacrifícios para conseguir ideias claras e distintas a respeito de cada tópico em que estivesse envolvido.
Conversar com Darwin trazia sempre a lembrança de Sócrates. Havia o mesmo desejo em encontrar alguém mais sábio do que ele; a mesma crença na soberania da razão; o mesmo bom humor imediato; o mesmo interesse colaborativo em todas as formas e trabalhos dos homens. Em vez de desistir a respeito dos problemas da Natureza, considerando-os impossíveis de solução, nosso filósofo moderno dedicou sua vida inteira em atacá-los com o mesmo espírito de Heráclito e de Demócrito, cujos resultados são a substância da qual suas especulações eram apenas sombras auspiciosas" (p. 140).

É isso!